A epilepsia infelizmente é compreendida pela população geral
como uma doença, com um padrão único.
Na verdade constituem diversos tipos. Classificamos a
epilepsia conforme o inicio das crises, tipo de crises, alterações de EEG e de
exames de imagem.
Com isso temos várias formas de epilepsia com padrões diferente,
e prognóstico também diverso.
Identificar o tipo de crise é fundamental para a escolha do
medicamento com melhor possibilidade de controle das crises, parece fácil mais
não é.
Mesmo quem lida diariamente com isso às vezes tem dúvida, vemos
e revemos várias vezes a filmagem de uma crise para poder captar todos os
detalhes. Principalmente os detalhes do inicio da crise.
No passado só tínhamos o relato das crises, e errávamos muito
na classificação, pois as famílias relatam o que chama mais a atenção.
Hoje temos a opção de pedir Video-EEG,
infelizmente o exame nem sempre filma a crise.
Com a ferramenta de filmagem (por meio de celular) de fácil
acesso a população essa dificuldade está menor. Já recebo muitos paciente aonde
a família filmou a crise. E deve filmar mesmo, ajuda muito o neurologista.
Um paciente pode ter um tipo apenas de crise ou vários tipos
de crises, esse é outro fator muito importante na classificação e no
tratamento.
A idade do inicio das crises também nos ajuda a classificar
o tipo de epilepsia, e identificar sua
causa.
Quando não conseguimos identificar a causa usamos o termo: idiopática.
Não quer dizer que não tem causa, e sim que não conseguimos
evidenciar por meios de exames e estudo da história a causa.
O manejo dessas medicações é complicado, cada remédio tem um
modo de ação, trata melhor um tipo de crise, pode piorar outro tipo de crise e
etc... O neurologista tem que ter um conhecimento amplo das medicações,
indicações e interações.
A família muitas vezes retira ou altera a dose de um
medicamento por conta própria achando que pode fazer isso sem consequências. Pode dar certo, mas se der certo foi por
sorte, a chance maior é de dar errado.
Entendo e me coloco no lugar das mães, crianças vão para
pediatras. Normalmente realizam tratamentos curtos, prescritos por dias.
A mudança é brusca, estamos na neurologia. Tratamentos
longos, uso continuo de medicação, ajustes frequentes.
Até o relacionamento com o neurologista é na maioria das
vezes bem diferente do que o realizado por pediatras.
A família estava preparada para o padrão da pediatria e não
da neurologia, para as mães não é natural e não é mesmo!
Elas sofrem pelo uso continuo de medicação e principalmente
se forem muitos os medicamentos necessários. Além do que esperam resultado
rápido, é claro!
A grande maioria das epilepsias possui controle fácil, porém
uma pequena parcela será considerada de difícil controle, refratária.
Neste grupo o paciente fará uso de vários medicamentos e
mesmo assim ainda apresenta crises convulsivas.
Essa relação do neurologista com a família será longo,
porque o tratamento é longo. O neurologista precisa manter a confiança da família
em períodos muito difíceis da doença.
Na minha carreira tenho alguns casos aonde só obtive sucesso
porque a mãe acreditou em mim, me deixou tentar medicação que já havia sido
usada sem sucesso, ou me deu tempo.
Digo a todas as mães que nunca desisto. Mexo, troco, associo
e retiro medicação sempre que não estiver satisfeita com o resultado.
É possível viver bem com Epilepsia.
Dra. Cristine Aguiar
Neuropediatra
Nenhum comentário:
Postar um comentário