segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Entendendo a Epilepsia!



 


A epilepsia infelizmente é compreendida pela população geral como uma doença, com um padrão único.
Na verdade constituem diversos tipos. Classificamos a epilepsia conforme o inicio das crises, tipo de crises, alterações de EEG e de exames de imagem.
Com isso temos várias formas de epilepsia com padrões diferente, e prognóstico também diverso.

Identificar o tipo de crise é fundamental para a escolha do medicamento com melhor possibilidade de controle das crises, parece fácil mais não é.
Mesmo quem lida diariamente com isso às vezes tem dúvida, vemos e revemos várias vezes a filmagem de uma crise para poder captar todos os detalhes. Principalmente os detalhes do inicio da crise.
No passado só tínhamos o relato das crises, e errávamos muito na classificação, pois as famílias relatam o que chama mais a atenção.
Hoje temos a opção de pedir Video-EEG, infelizmente o exame nem sempre filma a crise.
Com a ferramenta de filmagem (por meio de celular) de fácil acesso a população essa dificuldade está menor. Já recebo muitos paciente aonde a família filmou a crise. E deve filmar mesmo, ajuda muito o neurologista.

Um paciente pode ter um tipo apenas de crise ou vários tipos de crises, esse é outro fator muito importante na classificação e no tratamento. 
A idade do inicio das crises também nos ajuda a classificar o tipo de epilepsia, e identificar  sua causa.
Quando não conseguimos identificar a causa usamos o termo: idiopática.
Não quer dizer que não tem causa, e sim que não conseguimos evidenciar por meios de exames e estudo da história a causa.

O manejo dessas medicações é complicado, cada remédio tem um modo de ação, trata melhor um tipo de crise, pode piorar outro tipo de crise e etc... O neurologista tem que ter um conhecimento amplo das medicações, indicações e interações.
A família muitas vezes retira ou altera a dose de um medicamento por conta própria achando que pode fazer isso sem consequências.  Pode dar certo, mas se der certo foi por sorte, a chance maior é de dar errado.
Entendo e me coloco no lugar das mães, crianças vão para pediatras. Normalmente realizam tratamentos curtos, prescritos por dias. 

A mudança é brusca, estamos na neurologia. Tratamentos longos, uso continuo de medicação, ajustes frequentes.
Até o relacionamento com o neurologista é na maioria das vezes bem diferente do que o realizado por pediatras.
A família estava preparada para o padrão da pediatria e não da neurologia, para as mães não é natural e não é mesmo!
Elas sofrem pelo uso continuo de medicação e principalmente se forem muitos os medicamentos necessários. Além do que esperam resultado rápido, é claro!
A grande maioria das epilepsias possui controle fácil, porém uma pequena parcela será considerada de difícil controle, refratária.
Neste grupo o paciente fará uso de vários medicamentos e mesmo assim ainda apresenta crises convulsivas.
Essa relação do neurologista com a família será longo, porque o tratamento é longo. O neurologista precisa manter a confiança da família em períodos muito difíceis da doença.
Na minha carreira tenho alguns casos aonde só obtive sucesso porque a mãe acreditou em mim, me deixou tentar medicação que já havia sido usada sem sucesso, ou me deu tempo.
Digo a todas as mães que nunca desisto. Mexo, troco, associo e retiro medicação sempre que não estiver satisfeita com o resultado.

É possível viver bem com Epilepsia.

Dra. Cristine Aguiar
Neuropediatra

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