segunda-feira, 29 de outubro de 2018

Abuso de analgésicos na infância!

 



O abuso de medicação se tornou problema na faixa etária pediátrica nos últimos tempos.
Quase toda familia costuma fazer uso de analgésicos simples como dipirona e paracetamol nos filhos, mesmo sem a certeza de sua necessidade.
Este uso indiscriminado de analgésicos complica e tardia diagnóstico na pediatria.
Criança possui algumas particularidades, não sabe definir corretamente o que sente e aceita facilmente ser sugestionada pelos pais.
Este fato é comum em casos de enxaqueca, mas também mascara quadros dolorosos da pediatria.
Se é errado a auto medicação na vida adulta, imagine na vida infantil.
O abuso de analgésicos se torna muito comum na neuropediatria, nos casos de enxaqueca.
A enxaqueca se tornou uma causa comum de dor de cabeça na infância, tendo seu maior vilão a alimentação rica em gordura e fast foods.
A criança queixa-se frequentemente de dor de cabeça e é prontamente atendida pelo uso de analgésico.
A grande maioria das pessoas ainda consideram a dor de cabeça como sinal de problemas visuais.
Sendo que problemas visuais perfazem apenas 10% dos casos na infância.
A enxaqueca é responsável por mais de 80% dos casos de dores de cabeça na infância,  possui nesta faixa etária estreita relação com alimentos.
Muito difícil retirar as guloseimas na infância, então se faz uso de analgésicos e se procura outra causa para justificar o quadro doloroso.
Com a mudança alimentar dos últimos anos, os alimentos ricos em gordura são consumidos na própria casa.
E o aparecimento da dor de cabeça em crianças que herdaram esta patologia migrou de 14-16 anos para 4-6 anos de idade.
O que mais escuto é a frase: Não é normal criança ter dor de cabeça!
Não era! Agora é!
Pagamos um preço pela alimentação mais industrializada.
E neste caso o abuso de analgésicos será um dos fatores de pior prognóstico para o tratamento da enxaqueca infantil.
Falando da pediatria geral, se há dor precisamos encontrar o motivo.
Quanto mais você usa analgésico e consegue o controle, a visita ao pediatra só ocorrerá  quando os analgésicos simples não conseguirem abolir a dor.
Por isso, na pediatria observe a criança.
Peça para ela falar o que sente, não sugerindo local ou nomes como dor.
Use inicialmente algo caseiro como chá, caso não solucione a sensação da criança pode usar analgésico, porém fica atento a frequência desta queixa.
Se for necessário uso frequente de analgésico é porque necessita de avaliação e diagnóstico do quadro.

Dra. Cristine Aguiar
Neuropediatra

terça-feira, 2 de outubro de 2018

Síndrome de Sturge Weber: a marca do vinho!

Existem crianças que nascem com sinais, estes sinais de nascença são de extremo significado na medicina.
Seu formato e sua coloração são características que os definem quanto a coexistência de outras alterações.
Na neurologia temos diversas doenças as quais se acompanham de manchas ou sinais pela pele.
Pois o mesmo tecido embrionário que origina a pele, origina o sistema nervosos, portanto se a pele possuir alterações de cor ou textura o mesmo pode ter ocorrido no sistema nervoso.
Aprendemos no decorrer do tempo a ficar atentos a este detalhe no exame físico e com isso determinar quais os sinais de nascença importantes para o diagnóstico.
Existem alguns sinais já bem correlacionados como: as manchas café com leite e o sinal vinhoso em metade da face.
O sinal dito de sangue que se apresenta em metade da face ao nascer pode ser determinante para o diagnóstico da Síndrome de Sturge Weber.
Neste caso o sinal possui cor vinhosa proveniente de uma proliferação de vasos sanguíneos na pele, se estende deste a fronte até a região das bochechas.
Na pele possui a alteração estética, porém na Síndrome em questão existe proliferação semelhante de vasos em parte da membrana que recobre o cérebro do mesmo lado do sinal da face.
E esta alteração produzirá por consequência calcificações, as quais possuem potencial para originar crises convulsivas.
Assim paciente com Epilepsia e sinal de sangue vinhoso em metade do rosto são ditos portadores da Síndrome de Sturge Weber.
Estas convulsões costumam ser de difícil controle, pois a área epileptogênica é extensa.
Feito o diagnóstico é necessário, além do controle das crises a investigação para glaucoma.
Esta proliferação de vasos ocasiona também o aumento da pressão intra ocular, o glaucoma.
A deficiência cognitiva destes pacientes costuma ocorrer pelo número sucessivo de crises convulsivas ocorridas.
Nem todo paciente portador de Sturge Weber cursa com crises de difícil controle, porém infelizmente a maioria se porta desta maneira.
Aqui um sinal de pele me alerta sobre a possível existência de alterações outras, não visíveis ao exame físico mais de importância absurda no manejo e tratamento do paciente.


Dra. Cristine Aguiar
Neuropediatra