Como já foi dito, existem diversos tipos de epilepsia.
Essa
palavra não se resume a um único padrão, existem diversos tipos com evolução e
prognóstico diferentes.
A grande maioria das epilepsias possui fácil controle das
crises, um número pequeno estatisticamente será classificado como “epilepsias refratárias”
.
Como esse assunto é muito vasto, vou dividi-lo para facilitar
os esclarecimentos.
Vamos falar do tipo mais comum na infância, as Epilepsias
Benignas da Infância.
Esse grupo de epilepsias acontece em crianças
com desenvolvimento normal.
São crianças normais que assustam seus pais,
pois sem aviso apresentam uma crise convulsiva.
Normalmente ao chegar ao pronto socorro a crise já cedeu. A criança é avaliada e após exames clínicos e laboratórias gerais é liberada com a orientação de
procurar um neurologista.
Liberada???
Essa situação gera pânico, um grau de insegurança imenso,
pois a crise convulsiva é um evento que choca a população.
Justamente por isso temos imensos equívocos e distorções sobre
essa doença e seus portadores. Vários pacientes convivem com o preconceito.
Neste grupo de epilepsias a causa na maioria das vezes é genética,
herdada.
Mas a família quer achar um culpado.
O que não se sabe, se inventa!
Dai surgem vários mitos sobre a causa da crise, a família relaciona
com algo que a criança comeu ou uma variação brusca de temperatura sofrida.
Esses são os
mitos mais frequentes na minha região.
Isso acontece pela necessidade de se responder a pergunta,
por quê ?
Por que ela teve isso Dra.?
A resposta na verdade não é visível e por isso não aceita
tão facilmente.
Costumo explicar a família que a criança muda durante o crescimento, muda seu rosto, muda a boca, os olhos. Não cresce com o mesmo rosto que nasceu, muda e não tem por quê!
As feições mudam o que facilmente se observa, entendam existem mudanças internas.
A criança está crescendo, se desenvolvendo e seu cérebro também.
Suas ondas cerebrais podem durante esse desenvolvimento apresentar alterações, alterações estas que provocam crises convulsivas.
Quem causa a crise é a alteração de um grupo
de ondas cerebrais.
Neste grupo de paciente não existe alterações nos exames de imagem, tomografia ou ressonância.
Nestes casos de epilepsias benignas, as crianças costumam ter
histórias de parentes que também tiveram crises na infância, mas que hoje são
adultos normais.
Mas pelo preconceito com a doença, as pessoas que tiveram crises na infância não falam, não comentam, escondem esse fato.
O que impede a confirmação de história familiar positiva para epilepsia.
Foi dado o "sobrenome" benigna, a esse tipo de
epilepsia, por que o curso da doença costuma ser benigno. Não deixando
sequelas e podendo ser retirada a medicação no futuro sem o retorno das crises.
Durante o tratamento a criança vai usar medicação escolhida
pelo neurologista e calculada pelo seu peso. É necessário acompanhamento regular
com o neurologista, pois ajuste de doses são frequentes na faixa etária pediátrica.
Essa medicação terá horários fixos, que precisam ser
obedecidos. Por isso esse tratamento leva consigo uma carga emocional forte,
medicação controlada.
Não haverá tratamento curto, de dias ou meses. Será
tratamento de anos, no mínimo 3 anos.
Mas essa criança será a mesma, continuará sua vida
normalmente na escola e na sua casa. Seu filho não terá sequelas, então encare o
tratamento como algo bom, positivo.
Não dê um peso maior do que o já existente.
Ajude a desmistificar a doença, e o seu tratamento.
Todos nós
podemos contribuir para um mundo melhor, sem preconceitos.
É possível viver bem com epilepsia!
Dra. Cristine Aguiar
Neuropediatra
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