quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Controle da febre-Uso de antitérmicos!



 


Em todas as crianças pequenas devemos ter cuidado com a febre,  até os 5 anos a febre pode causar crises convulsivas.
Essas crianças estão sujeitas as crises febris, devido a imaturidade do cérebro.
Por não haver a distribuição do aumento da temperatura para o corpo inteiro na criança, a mão na serve para avaliar a temperatura. Dependendo do local que você pegue, a criança pode estar quente, normal ou até fria.
As mães devem usar termômetro para verificar a temperatura e caso mostre a temperatura maior que 37,8C medicar para febre.
Existe no mercado 3 drogas antitérmicas com diversos nomes comerciais, mas vocês devem se a ter as substâncias : dipirona, paracetamol e ibuprofeno.
Cada uma dessas substâncias possui o poder antitérmico e analgésico. Caso a criança não seja alérgica a nenhuma delas você terá as 3 a sua disposição para o controle da febre.
Normalmente o meio de administração preferido é o via oral , por meio das gotas ou xarope.
Aqui vale salientar alguns detalhes!
A medicação só iniciará seu efeito após ser absorvida pelo estômago.
Se a criança estiver com estômago cheio, o remédio vai se misturar ao alimento e será absorvido mais lentamente. Neste período a febre continuará a subir.
Portanto pedimos que usem um meio físico para esfriar a criança enquanto a medicação ainda não foi absorvida.
O meio físico que oriento é a água em temperatura ambiente, o álcool muito usado o passado possui cheiro forte e pode causar intoxicação quando inalado em quantidades elevadas.
Um banho demorado ( 10 minutos ) com água em temperatura ambiente é suficiente para controlar a temperatura enquanto a medicação faz efeito.
Todos sabem que devemos respeitar os horários da medicação, por exemplo, a dipirona é de 6 em 6 horas, mas pode ser de 4 em 4 horas.
Porém se você medicou com dipirona e a febre voltou em 2 horas?
Nesta situação a mãe não deveria usar dipirona, mas pode usar outro antitérmico, por exemplo, um remédio a base de ibuprofeno.
Ou seja, você pode intercalar antitérmicos caso necessite, assim terá medicação de 2 em 2 horas para o controle da febre.
Nos pacientes que já tiveram crises convulsivas febris oriento o uso de antitérmicos com a temperatura igual ou superior a 37,5C.
Quando a criança apresenta vômitos não teremos beneficio com medicação realizada por via oral, 
Nestes casos temos que mudar o meio de administração para a forma de supositórios ou injetável.
Oriento possuir medicação na forma de supositórios em casa, tipo  a dipirona supositório para essa situação. 
Na urgência as vezes não conseguimos  transporte fácil para um pronto socorro.

O importante é que todos entendam as regras gerais para o controle da temperatura e com isso evitem os casos de crises febris em nossas crianças.

Dra. Cristine Aguiar
Neuropediatra

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Roncar não é normal!






O ronco é o som produzido pela vibração do ar no céu da boca.
Roncar não é normal, em nenhuma idade. Em criança muito menos.
Ao se ouvir o ronco, percebe-se que a criança está respirando pela boca.
Não se ronca quando o ar entra pelo nariz.
Boca não foi feita para se respirar.
Nariz sim, tem essa função.
Quando respiramos pelo nariz o ar é umidificado, aquecido e existe uma limpeza das partículas maiores que se prendem as paredes internas do nariz.
O ar é preparado para entrar nos nossos pulmões.
Quando respiramos pela boca nenhuma dessas funções é realizada, o ar entra diretamente.
Resseca a boca, e garganta. As bactérias e vírus existentes no ambiente  entram sem nenhuma barreira
Criança que respira pela boca fica doente frequentemente de viroses e amigdalites, pois não realiza os mecanismos de defesa por parte do acondicionamento do ar.

Quando você olha seu filho de boca aberta, tenha certeza que ele esta respirando pela boca.
Tente puxar o ar pelo nariz mantendo a boca aberta para você comprovar o que te digo!

A boca possui musculatura, pois a língua é músculo. Quando dormimos relaxamos a musculatura e com isso a língua impede a passagem de ar.
A criança que dorme de boca aberta, tem sono agitado, se mexe muito para encontrar posição para a entrada de ar.
É comum nessas crianças o ” falar dormindo”, o “ranger de dentes” e até mesmo o sonambulismo.
O sono, em especial o sono profundo tem relação direta com nossas capacidades intelectuais.
Quem dorme pouco ou mal, tem suas capacidades de memória e concentração diminuídas.
Pode ser a causa do baixo rendimento escolar, e deve ser pesquisado.
Que dorme roncando, dorme mal!
A grande causa de roncos na faixa etária infantil é causado pelo aumento das adenoides ou a rinite alérgica tão comum nas grandes cidades.
Rinite alérgica não tem cura, mas não é por isso que não vamos tratar!
Existe controle, tratamentos clínicos de manutenção. Os casos que necessitam de cirurgia diminuíram bastante com o avanço das medicações inalatórias.
Muito comum às mães procurarem primeiro o neurologista quando existe algum problema no sono, mas a grande maioria das crianças será encaminhada para o tratamento respiratório primeiramente.
Após a avaliação do otorrino e tratamento clinico ou cirúrgico da causa encontrada, o neurologista pode realizar a sua reavaliação.

É claro que podemos encontrar paciente que necessitem de medicação, mas na infância não é a regra.

Dra. Cristine Aguiar
Neuropediatra

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

TEA- Transtorno do Espectro Autista





TEA- Esse nome foi elaborado para facilitar o entendimento e corrigir alguns erros que havia na diversidade de diagnóstico desse grupo de pacientes.
Houve uma série no Fantástico com Dr. Dráuzio Varella abordando o tema há algum tempo atrás. Eu gostei muito, mas vejo que a matéria não conseguiu explicar claramente o termo a população.
Colocamos esse diagnóstico quando uma criança possui dificuldade de comunicação social, essa dificuldade pode ser bem leve ou muito grave.
Por isso a palavra Espectro, para incluir todos os níveis.
Para haver dificuldade de comunicação, podemos ter dificuldade da fala ou não!
É possível haver  dificuldade da comunicação porque existe um atraso da linguagem, mas pode haver uma criança que fala, mas não se comunica perfeitamente.
São coisas diferentes. Quando cantamos emitimos a voz, mas não nos comunicamos.
Cantamos por prazer de emitir o som, a melodia. Mas não está associado a comunicação normalmente.
Podemos ter casos graves onde a criança não fala. Nos vários níveis intermediários a criança fala poucas palavras, além dos casos bem leves onde a criança fala tudo.
A ideia principal é a comunicação, não se prendendo na emissão ou não das palavras.
Parece confuso, mas essas crianças para serem classificadas como portadoras de TEA precisam ter dificuldade de comunicação, em qualquer nível.
Quem não fala tem dificuldade de comunicação?
Não necessariamente!
Os mudos não falam, mas só serão classificados como TEA se possuírem associado a ausência da voz a dificuldade de comunicação. Aqueles que se comunicam por outros meios, inclusive na linguagem dos sinais não serão classificados como portadores de TEA.

Já uma criança que canta e repete o que falamos, mas não consegue manter um diálogo simples está dentro do TEA. Porque embora emita palavras não realiza a comunicação.

As crianças não precisam possuir retardo mental para serem classificadas no TEA, podemos ter retardo mental, inteligência normal ou acima do normal. Não é esse fator que inclui a criança neste grupo.

Não foi o retardo mental que as colocou dentro do espectro.

A comunicação pelo olhar pode estar comprometida nos casos graves, mas nos casos leves a criança pode realizar o contato visual de forma adequada.

Aqui eu peço que se lembrem do meu texto já publicado “Comunicação- Ser um pouco andorinha”
Nós nascemos com o instinto da comunicação, nascemos andorinhas. Essas crianças não nascem assim.
O TEA é composto de crianças que por alguma razão (ainda não bem esclarecida pela medicina), não possuem a função de comunicação de forma instintiva e natural.

E o tratamento consiste em conseguir ensinar, o que deveria ser instintivo e natural.

Por isso eu gosto de falar que o tratamento consiste em ensinar a ser um pouco andorinha, para viver num mundo de andorinhas.

Mesmo dificuldades leves comprometem a vida em sociedade, a escolarização e a vida familiar!

Quanto mais cedo se perceber a dificuldade e procurar ajuda melhor será o prognóstico.

Dra. Cristine Aguiar
Neuropediatra

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Entendendo a Epilepsia- II






Como já foi dito, existem diversos tipos de epilepsia.
Essa palavra não se resume a um único padrão, existem diversos tipos com evolução e prognóstico diferentes.
A grande maioria das epilepsias possui fácil controle das crises, um número pequeno estatisticamente será classificado como “epilepsias refratárias
.
Como esse assunto é muito vasto, vou dividi-lo para facilitar os esclarecimentos.

Vamos falar do tipo mais comum na infância, as Epilepsias Benignas da Infância.
Esse grupo de epilepsias acontece em crianças com desenvolvimento normal.
São crianças normais que assustam seus pais, pois sem aviso apresentam uma crise convulsiva.
Normalmente ao chegar ao pronto socorro a crise já cedeu. A criança é avaliada e após exames clínicos e laboratórias gerais é liberada com a orientação de procurar um neurologista.

Liberada???

Essa situação gera pânico, um grau de insegurança imenso, pois a crise convulsiva é um evento que choca a população.
Justamente por isso temos imensos equívocos e distorções sobre essa doença e seus portadores. Vários pacientes convivem com o preconceito.

Neste grupo de epilepsias a causa na maioria das vezes é genética, herdada.
Mas a família quer  achar um culpado. 
O que não se sabe, se inventa!
Dai surgem vários mitos sobre a causa da crise, a família relaciona com algo que a criança comeu ou uma variação brusca de temperatura sofrida.
Esses são os mitos mais frequentes na minha região.
Isso acontece pela necessidade de se responder a pergunta, por quê ?
Por que ela teve isso Dra.?

A resposta na verdade não é visível e por isso não aceita tão facilmente.
Costumo explicar a família que a criança muda durante o crescimento, muda seu rosto, muda a boca, os olhos. Não cresce com o mesmo rosto que nasceu, muda e não tem por quê!
As feições mudam o que facilmente se observa, entendam existem mudanças internas. 

A criança está crescendo, se desenvolvendo e seu cérebro também.
Suas ondas cerebrais podem durante esse desenvolvimento apresentar alterações, alterações estas  que provocam crises convulsivas.
Quem causa a crise é a alteração de um grupo de ondas cerebrais.
Neste grupo de paciente não existe alterações nos exames de imagem, tomografia ou ressonância.

Nestes casos de epilepsias benignas, as crianças costumam ter histórias de parentes que também tiveram crises na infância, mas que hoje são adultos normais.
Mas pelo preconceito com a doença, as pessoas que tiveram crises na infância não falam, não comentam, escondem esse fato.
O que impede a confirmação de história familiar positiva para epilepsia.

Foi dado o "sobrenome" benigna, a esse tipo de epilepsia, por que o curso da doença costuma ser benigno. Não deixando sequelas e podendo ser retirada a medicação no futuro sem o retorno das crises.
Durante o tratamento a criança vai usar medicação escolhida pelo neurologista e calculada pelo seu peso. É necessário acompanhamento regular com o neurologista, pois ajuste de doses são frequentes na faixa etária pediátrica.
Essa medicação terá horários fixos, que precisam ser obedecidos. Por isso esse tratamento leva consigo uma carga emocional forte, medicação controlada.

Não haverá tratamento curto, de dias ou meses. Será tratamento de anos, no mínimo 3 anos.
Mas essa criança será a mesma, continuará sua vida normalmente na escola e na sua  casa. Seu filho não terá sequelas, então encare o tratamento como algo bom, positivo.
Não dê um peso maior do que o já existente.

Ajude a desmistificar a doença, e o seu tratamento.
Todos nós podemos contribuir para um mundo melhor, sem preconceitos.

É possível viver bem com epilepsia!

Dra. Cristine Aguiar
Neuropediatra

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Crises febris X Crise em vigência de febre



 


Existe muita diferença entre convulsão febril e convulsão em vigência de febre.
Na convulsão febril, a febre é considerada a causa da convulsão. Só acontece em crianças menores de 5 anos. Isso porque nesta idade o sistema nervoso ainda é considerado imaturo.
Nestas crianças realizamos o EEG para confirmar nossa hipótese, e o EEG é normal. Confirmando que a febre causou a crise convulsiva.
Tipicamente as crises convulsivas são generalizadas e rápidas, além de não se repetirem no mesmo dia.
Quando demoradas ou focais são monitoradas com mais cuidado pelo neurologista por estar fugindo ao padrão típico da crise febril.
Já qualquer criança ou adulto que possua epilepsia em seus diversos tipos pode ter crise no momento da febre, ou seja, crise em vigência de febre.
A febre aqui não causou a crise convulsiva, apenas desencadeou o que já existia.
Descompensou o quadro da epilepsia.
E isso é muito comum, durante quadro febril nosso organismo sofre mudança no seu metabolismo. Perdemos a fome, aumentamos a sensação de sede, existe um aumento de diversas substâncias, além de anticorpos e imunoglobulinas. 
Uma verdadeira revolução que pode mudar o metabolismo das drogas usadas para o controle de crises.
Neste caso a crise terá as características da epilepsia que a criança já possui, o EEG apresenta as alterações da epilepsia em questão.
Nas crises febris a criança normalmente não possui atrasos, pois o motivo da crise se relaciona com a imaturidade do sistema nervoso próprio da idade.
As crises são rápidas e não se repetem facilmente, o que também favorece o curso benigno.
Existem casos de crises febris complicadas, demoradas e até evoluindo para status, mas não é a regra, é exceção.
Tratamos as crises febris exatamente pelo risco de que a repetição delas possa causar prejuízo e aumento da probabilidade de casos de epilepsia no decorre da vida.
Já existem trabalhos relacionando a Esclerose Mesial Temporal com história de crises febris, por isso o uso de tratamento contínuo ou intermitente nas convulsões febris.

Já nas epilepsias por haver um número muito grande de tipos, podemos ter ou não atrasos de fala e cognição. 
E esses atrasos são variáveis, de individuo para individuo e se relacionam na maioria das vezes com a repetição das crises, o número de crises que esta criança teve.

A crise na vigência de febre pode acontecer em qualquer idade, até mesmo em adultos que já possuam o diagnóstico de epilepsia. Não se relaciona com imaturidade do sistema nervoso e sim com a mudança do metabolismo do organismo e das drogas em uso.

Portanto torna-se vital o controle rigoroso da febre em pacientes portadores de epilepsia, por este ser um fator desencadeante de crises.

Dra. Cristine Aguiar
Neuropediatra

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Zika vírus- Microcefalia







O Zika vírus é novo no nosso país, e somente este fato já seria preocupante.
A circulação de um novo vírus em determinada cidade ou país já encontra uma população sem imunidade para a doença. Isso explica o surto de Zika atual, nenhum de nós tem imunidade para este vírus.
Após a doença formamos uma memória imunológica para este vírus, mas no momento existem milhões de pessoas sujeitas a doença.
Este vírus chega ao país e encontra seu principal vetor, o mosquito Aedes aegypti em grande quantidade e há anos no país.
 Essa infestação do mosquito propicia as condições perfeitas para a transmissão de todas as doenças que por ele podem ser carregadas, dengue,chikungunya e Zika.
O problema do mosquito é antigo, mesmo assim não conseguimos exterminar o mosquito e sofríamos todos os anos surtos de dengue. Agora sofremos surtos das outras doenças que o mesmo vilão, o mosquito transmite.
O grande problema neste momento é que somente agora descobrimos o poder que o Zika vírus possui  no sistema nervoso. E descobrimos da pior maneira, por evidência de casos.
Ao aumentar o número de  Sd. de Guillain-Barré  em Salvador no início do ano, o Zika vírus já foi identificado.  Vários vírus podem causar a Sd de Guillain-Barré, porém durante o surto de Zika em Salvador houve um aumento importante de casos.
Agora para nossa tristeza estão nascendo crianças que foram concebidas no início do ano, durante o surgimento do vírus Zika. E novamente percebemos por evidências que o vírus pode ter uma ação devastadora no cérebro em desenvolvimento.
A microcefalia é o sinal de que não houve o desenvolvimento adequado do cérebro durante a gestação.  Sempre houve casos de microcefalia, pois são muitas as causas que prejudicam o desenvolvimento cerebral. O que houve foi o aumento do número de casos, porque houve a introdução de mais uma causa as já existentes.
Nossa situação é preocupante, e por isso aconselhamos as mulheres que estejam planejando engravidar suspenderem seus planos.

Possuímos um vírus novo, onde a grande maioria das pessoas não possui imunidade.
Possuímos o mosquito que leva o vírus em quantidades absurdas e distribuído por todo o país.
Não possuímos vacina para prevenção do vírus.

Só podemos agir de 2 formas: eliminar o mosquito e evitar a picada.

As duas formas de ação extremamente difíceis.
Mas na situação atual não temos escolha, é uma decisão inevitável!

Precisamos exterminar os focos do mosquito!
Para isso precisamos de ações públicas do governo  e de uma população mobilizada para eliminar todos os focos do mosquito no território nacional.

Evitar a picada é difícil, mas o uso de repelentes pode ter alguma ação.


Nossa atenção se volta às  mulheres grávidas, principalmente no início da gravidez. Mas toda a população deve fazer uso de telas e repelentes para tentar se proteger do mosquito, além de ser agente ativo e vigilante para extermínio dos focos do mosquito.

Dra. Cristine Aguiar
Neuropediatra

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Entendendo a Epilepsia!



 


A epilepsia infelizmente é compreendida pela população geral como uma doença, com um padrão único.
Na verdade constituem diversos tipos. Classificamos a epilepsia conforme o inicio das crises, tipo de crises, alterações de EEG e de exames de imagem.
Com isso temos várias formas de epilepsia com padrões diferente, e prognóstico também diverso.

Identificar o tipo de crise é fundamental para a escolha do medicamento com melhor possibilidade de controle das crises, parece fácil mais não é.
Mesmo quem lida diariamente com isso às vezes tem dúvida, vemos e revemos várias vezes a filmagem de uma crise para poder captar todos os detalhes. Principalmente os detalhes do inicio da crise.
No passado só tínhamos o relato das crises, e errávamos muito na classificação, pois as famílias relatam o que chama mais a atenção.
Hoje temos a opção de pedir Video-EEG, infelizmente o exame nem sempre filma a crise.
Com a ferramenta de filmagem (por meio de celular) de fácil acesso a população essa dificuldade está menor. Já recebo muitos paciente aonde a família filmou a crise. E deve filmar mesmo, ajuda muito o neurologista.

Um paciente pode ter um tipo apenas de crise ou vários tipos de crises, esse é outro fator muito importante na classificação e no tratamento. 
A idade do inicio das crises também nos ajuda a classificar o tipo de epilepsia, e identificar  sua causa.
Quando não conseguimos identificar a causa usamos o termo: idiopática.
Não quer dizer que não tem causa, e sim que não conseguimos evidenciar por meios de exames e estudo da história a causa.

O manejo dessas medicações é complicado, cada remédio tem um modo de ação, trata melhor um tipo de crise, pode piorar outro tipo de crise e etc... O neurologista tem que ter um conhecimento amplo das medicações, indicações e interações.
A família muitas vezes retira ou altera a dose de um medicamento por conta própria achando que pode fazer isso sem consequências.  Pode dar certo, mas se der certo foi por sorte, a chance maior é de dar errado.
Entendo e me coloco no lugar das mães, crianças vão para pediatras. Normalmente realizam tratamentos curtos, prescritos por dias. 

A mudança é brusca, estamos na neurologia. Tratamentos longos, uso continuo de medicação, ajustes frequentes.
Até o relacionamento com o neurologista é na maioria das vezes bem diferente do que o realizado por pediatras.
A família estava preparada para o padrão da pediatria e não da neurologia, para as mães não é natural e não é mesmo!
Elas sofrem pelo uso continuo de medicação e principalmente se forem muitos os medicamentos necessários. Além do que esperam resultado rápido, é claro!
A grande maioria das epilepsias possui controle fácil, porém uma pequena parcela será considerada de difícil controle, refratária.
Neste grupo o paciente fará uso de vários medicamentos e mesmo assim ainda apresenta crises convulsivas.
Essa relação do neurologista com a família será longo, porque o tratamento é longo. O neurologista precisa manter a confiança da família em períodos muito difíceis da doença.
Na minha carreira tenho alguns casos aonde só obtive sucesso porque a mãe acreditou em mim, me deixou tentar medicação que já havia sido usada sem sucesso, ou me deu tempo.
Digo a todas as mães que nunca desisto. Mexo, troco, associo e retiro medicação sempre que não estiver satisfeita com o resultado.

É possível viver bem com Epilepsia.

Dra. Cristine Aguiar
Neuropediatra

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Comunicação- Ser um pouco andorinha!






Falar de comunicação é difícil, principalmente se desejo simplificar. Quando perfeita a comunicação se faz naturalmente, sem esforço. Mas quando temos problemas  é muito difícil consertar!
Tropeçamos na explicação. 
Difícil explicar  que a voz não é o fator decisivo para a comunicação.
Para tentar explicar isso há algum tempo uso um modelo comparativo, que vou dividir com vocês aqui.

O ser humano é um ser social, vive em sociedade desde os homens da caverna. Temos indícios de formações de pequenos grupos de indivíduos, desde aquela época.

Na natureza vivenciamos vários modelos animais com as mesmas características. Muitos animais formam grupos para viver.

Sem explicação, vivem assim. Ninguém mandou ou orientou. Acho que é instinto.

Uso um grupo para o meu exemplo: andorinhas!
As andorinhas voam em grupo, realizam um verdadeiro balé no ar. Um espetáculo da natureza.
Não sei muito sobre andorinhas, só admiro.
Acho que elas possuem alguma forma de comunicação para todas irem para o mesmo lado e depois para o outro lado, e assim por diante. Acredito que se cada uma fosse  para um lado nós não teríamos esse espetáculo.

Em contra ponto, vou colocar aqui outra ave que acho linda, a águia!
Adoro a imponência da águia, seu voo rasante em alguns momentos e tão alto em outros momentos. Mas ela não vive em grupo, não voa em grupos.
Também não sei muita coisa sobre as águias! Apenas observo e admiro.
Não considero certo ou errado o jeito de ser de cada animal, apenas observo!

Gosto de explicar aos pais que quando temos crianças com problemas na comunicação, o problema é meio assim:
Eles nasceram andorinhas, mas acham que são águias. Estão muito felizes sendo águias, mas terão que viver num mundo de andorinhas.
Portanto vamos tentar ensiná-los a ser um pouquinho andorinha!


E aqui começa uma longa história....

Dra. Cristine Aguiar
Neuropediatra

quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Dor de Cabeça- Enxaqueca?



 


A dor de cabeça se tornou queixa comum na infância, atendo diariamente várias crianças.
No serviço público responde por 70% das minhas consultas. 
Precisamos ter em mente que embora existam diversas causas a enxaqueca responde por 80% dos casos.
No passado a enxaqueca iniciava seus sintomas na pré-adolescência, agora os sintomas aparecem na infância. Isso porque somente na adolescência as crianças do passado entravam em contato com um número maior de alimentos industrializados. 
 A alimentação das crianças em casa piorou muito, a adição de bebidas lácteas industrializadas, biscoitos e iogurtes na casa transformou a alimentação infantil.
Essa transformação não foi para melhor, a ingestão de açúcar e gordura aumentou de forma perigosa. Por consequência as doenças relacionadas com os erros alimentares  aparecem em idade cada vez menores.
Enxaqueca e gastrite são bons exemplos.

A dor de cabeça precisa ser avaliada levando em conta sua  frequência, se associada a febre, se existem fatores que pioram a dor.
Quais os fatores de alivio da dor? Vômitos, escuridão?

Se associada ao quadro febril, terá sua origem no processo inflamatório ou infeccioso.

Problemas visuais tão relacionados a dor de cabeça só respondem por 10% dos casos, mas devem ser investigados.
Existem alterações de EEG que possuem sua sintomatologia apenas com a queixa de cefaleia (dor de cabeça ) simulando casos de enxaqueca.
 Na minha avaliação peço EEG para todos os pacientes.

Disfunção de ATM ( articulação tempôro mandibular ) pode ser causa de dor de cabeça já na infância, e deve ser lembrada durante a investigação.

Mas a enxaqueca será a grande causa encontrada, na enxaqueca o diagnóstico será clinico. Todos os exames solicitados serão normais.

É comum a história familiar positiva para enxaqueca, é uma característica herdada.
A enxaqueca se relaciona a fatores que provocam o início da dor, entre eles os mais comuns serão cheiros fortes, claridade e alimentos ricos em gordura.
O diagnóstico será fechado quando se excluir algumas patologias e se observar uma relação direta entre esses fatores e o início da dor.
Na infância o grande vilão é a alimentação, criança gosta de gordura. 
Gosta de batata frita, pizza, sanduíche, sorvete, biscoitos e salgadinhos.
Como no momento existe um exagero no consumo destes alimentos, aquelas crianças que possuem a predisposição genética para enxaqueca sofrerão com as dores.

Primeiro passo no tratamento é identificar se a dor se relaciona com esses fatores, na maioria dos casos a restrição de alguns alimentos da dieta já resolve o problema.
A dieta orientada reduz os alimentos ricos em gordura.
Pedimos para colocar as guloseimas no lugar delas. No final de semana ou nos momentos festivos.
Durante o dia a dia manter uma dieta saudável, sem refrigerantes, salgadinhos, pizza e demais alimentos industrializados.
Aqui o chocolate pode ser um grande vilão, o cacau possui alto teor de gordura.

Veja só, o tratamento é a correção da alimentação.

A alimentação errada de nossas crianças está custando a saúde delas, provocando obesidade, gastrite, enxaqueca, aumento de risco cardiovascular e etc...

Se realizada a orientação com mudança alimentar e ainda assim  houver uma frequência elevada de dores, pode ser necessário o tratamento profilático da enxaqueca.

O neuropediatra vai avaliar a frequência das dores, seu padrão e escolher o tratamento mais adequado, lembrando que esse tratamento não trará a cura.

Enxaqueca não tem cura, tem controle!

Dra. Cristine Aguiar
Neuropediatra